Subculturas Alternativas: Elas ainda existem?Monocultura, Consumo, Imagem & Moda [de Sana Skull]

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Subculturas Alternativas: Elas ainda existem?Monocultura, Consumo, Imagem & Moda [de Sana Skull]

O texto a seguir é de autoria de Sana Skull do blog “Moda de Subculturas” e vem a ser reproduzido com autorização dela.

Subculturas Alternativas. Elas eram um aspecto crucial da civilização industrial nos dois séculos anteriores… mas elas se tornaram extintas.” William Gibson, All Tomorrow’s Parties.

COILHOUSE é uma carta de amor à cultura alternativa, escrita em uma Era onde a cultura alternativa não mais existe.” Descrição da revista alternativa Coilhouse.

Suponho que todos que lêem este blog sabem o que é uma subcultura.

Cultura significa a tradição, normalmente clássica e conservadora, um padrão de excelência a ser vivido. Já a palavra subcultura evoca um tipo de submundo, quando um grupo de pessoas faz questão de viver de forma diferente da cultura dominante e lutando contra ela. A revolta, ações ou o uso de roupas diferentes são uma forma de recusa à excelência exigida. Exemplo? Os teddy boys, skinheads e punks quando surgiram, eram considerados ameaças à ordem pública, viviam em auto-exílio e eram a resposta heróica de jovens contra a cultura de massa.CONTINUE LENDO>>>

As subculturas como as conhecemos hoje nasceram no mais louco século que o mundo já viu: o século XX. Sobreviveram à ele? Há quem diga que não. Há os que creem que as subculturas “morreram em 1992” quando sua estética passou a ser consumida e comercializada em massa pelas grifes mainstream e morreram de fato quando as pessoas passaram a ter acesso à Internet e as ideologias foram substituídas por estéticas vazias de significado.

A definição do que sabemos e entendemos como “subculturas  alternativas” vem de estudos acadêmicos de sociólogos e antropólogos que nunca pertenceram a subcultura nenhuma. O resto vem da mídia. A mídia é especialista em focar em elementos da superfície das subculturas ao invés de sua substância, a forma como as subculturas são exibidas na mídia as torna mais exóticas e assustadoras do que elas realmente são.

E por que não existiria mais a cultura alternativa?

Segundo o escritor Joshua Ellis, porque ela foi devorada pela monocultura. Em uma monocultura, é impossível criar qualquer subcultura que se coloque em oposição ao mainstream porque o mainstream simplesmente se apropria dela (explico melhor isso na postagem a seguir, a parte 2).

Já o livro The Postmodern Meaning of Style sugere que o conceito de subcultura está menos aplicável à pós modernindade porque não há mais uma cultura dominante contra culturas que expressam resistência.

A cultura alternativa, embora recuse os aspectos da cultura dominante, consome objetos vendidos pelo mainstream, especialmente roupas que são parte de sua “rebelião”. Grunge pode ser comprado na Burberry, Heavy Metal no Louboutin, Gótico na H&M e por aí vai… Cada vez mais rapidamente arte, moda e música alternativa são apropriadas e integradas pela cultura dominante. Mas há diferença entre consumo comercial e o consumo pela criativdade/originalidade. A fusão entre as subculturas e a moda não é um processo cultural e sim, comercial e econômico.

É comum ouvir da geração que é adolescente/jovem no século XXI que eles não se encaixam em nenhuma subcultura e dizem pertencer ao universo alternativo como um todo. Ao invés da identidade de grupo há a identidade fragmentada; o comprometimento e os laços com a subcultura são fracos, o que faz os jovens “trocarem” de subcultura quando bem quiserem; ao invés de pertencerem à uma subcultura por seus os valores e crenças, faz-se parte delas apenas pelo fascínio das roupas e da imagem; a auto-imagem autêntica virou uma celebração do não-autêntico enfatizando a hibridicidade e diversidade. Os jovens alternativos do passado antes defendiam com mente aberta temas tabus, os de hoje tem a mente fechada e conservadora sobre estes temas. Há a falta de uma ideologia, o desejo de não ser rotulado, o individualismo, o contrario da imagem típica e homogênea do que endende-se por subculturas.

Contrariando tudo acima, o livro The Post Subcultures Reader, diz que essa incorporação das subculturas pelo mainstream formando a monocultura é um mito sem fundamento que subestima a colaboração multifacetada das subculturas com os grandes negócios da cultura dominante. E sugere ainda que não há resistência intrínseca ou qualidades subversivas nas subculturas. A inteção do livro é repensar e reformular o que entendemos como “subculturas”. Polêmico não?

A MONOCULTURA

A primeira parte , foi sobre algumas publicações que sugerem que a monocultura matou as subculturas em anos recentes. Para explicar o que é uma monocultura optei por traduzir um artigo que em minha opinião, é extremamente claro sobre a relação das subculturas com a pós modernidade. O artigo foi publicado na revista Coilhouse #4 sob o título de “Children by the Millions Wait”, escrito por Joshua Ellis.

“Em 1989, no livro Lipstick Traces, o jornalista e historiador de música Greil Marcus faz uma conexão direta entre o movimento punk britânico do final dos anos setenta, os heréticos e as seitas místicas cristãs que assombraram a Europa na Idade das Trevas. É um livro estranho e pós-moderno, mas de fato há muitas semelhanças entre misticismo e contracultura. Na Idade das Trevas, um mundo pré-mídia de massa, ser um místico era contracultural, era o equivalente a ter cabelos longos numa banda de rock em 1965, esculpir o cabelo de formas estranhas em 1976 ou deixar crescer a barba e aderir a um laptop em 2009.

Ir contra a Igreja era punk pra caramba no século XI. Parte do processo de se tornar uma aberração cultural ou um místico é ser retirado de sua zona de conforto: você está explicitamente assumindo-se como uma pessoa fora da norma e sendo um “estranho”. Não há como voltar atrás. Para as gerações pós-guerra, a transcendência e a revolução pessoal estão intrínsecamente ligados aos meios de comunicação de massa, como literatura, filmes undergroundrock and roll, hip-hop e música eletrônica. Para mim, na escola, o caminho do excesso era rock and roll juntamente com a literatura emergente cyberpunk de William Gibson, Bruce Sterling e John Shirley. Naqueles dias, antes da onipresença da internet, era difícil as coisas chegarem em suas mãos se você vivesse fora dos núcleos urbanos centrais dos Estados Unidos. Eu acho que grande parte do valor da contracultura, era a escassez da mesma, o mistério. Vale lembrar que, antes desta década, era difícil encontrar uma música que não estava em grandes gravadoras, filmes que não foram lançados por grandes estúdios de Hollywood ou livros de pequenas editoras. Não havia Amazon ou iTunes. Se você quisesse em alguma coisa estranha e diferente, suas opções eram severamente limitadas. O que Nick Hornby disse no filme Alta Fidelidade é absolutamente verdadeiro em mim: eu gosto das pessoas em sua maioria não por causa de quem eles são, mas por causa do que eles gostam. Se isso soa superficial, pense da seguinte maneira: em certo sentido, suas escolhas no consumo de mídia sugerem muito sobre quem você é e o que você acredita.

Com a popularização da Internet, é quase impossível não saber tudo sobre qualquer coisa nos dias de hoje. Eu tendo a acreditar que a Internet realmente matou o conceito de uma contracultura. Em vez disso, temos o que meu amigo Warren Ellis chama de monocultura: “Vá na sua esquina“, diz Ellis em seu livro em quadrinhos Transmetropolitan, “Você provavelmente vai ver um McDonalds, uma televisão ligada na MTV, uma loja de roupas Gap. Vá à uma esquina da uma rua em Londres e você verá a mesma coisa. O mesmo em Praga, mesmo em São Paulo, Grozny e Hobart. Isso é o que é uma monocultura. Está em todo lugar, é tudo a mesma coisa. Isso é o futuro. Isto é o que nós construímos.

Em uma monocultura, é impossível criar qualquer subcultura que se coloca em oposição ao mainstream porque o mainstream simplesmente se apropria dela. Eu não estou falando sobre a apropriação no sentido empresarial /capitalista, onde os significantes da cultura alternativa são usadas para vender tudo. Isso não é nada novo. O que é estranho sobre a monocultura é que ele realmente abraça subculturas e torna-as parte do mainstream em uma velocidade muito maior do que jamais foi alcançado antes. Mesmo anti-consumismo é aceitável. Não é mais possível ser “estranho” porque ser estranho agora é aceitável, e se algo é geralmente aceitável, é, por definição, não-estranho.

A tatuagem e a modificação corporal são um grande exemplo. Há vinte anos, ter mangas de tatuagens em seus braços era algo muito estranho. Era relativo à  motociclistas, condenados e punks que não esperavam ocupar um emprego. O mesmo acontecia com os piercings. As únicas pessoas com piercings faciais eram as aberrações de circo. Hoje, todos tem tatoos e piercings, inclusive minha mãe. A loja de tatuagem deixou de ser no beco da pior parte da cidade e passou a ser uma loja de alto nível.  Tatuagens  eram de modo geral, culturalmente inaceitáveis no ocidente. Também não era aceitável caucasianos terem cabelos dreads, moicanos ou tingidos. Ao mesmo tempo que está totalmente descolado usar seu cabelo como o de um empresário dos anos 50, está aceitável para as mulheres vestir espartilhos, vestidos de estampas florais até os tornozelos ou uma combinação de ambos. O que estamos vendo, talvez pela primeira vez na história, é um mundo em que tudo é aceitável.

Porém dentro e fora da monocultura há os que professam indignação com o declínio “moral” da sociedade, em grande parte são conservadores cristãos e islâmicos. Mas, em geral, a monocultura ignora essas pessoas, em parte porque eles tendem a não ser bons consumidores e, portanto, são praticamente invisíveis para o capitalismo (que faz a monocultura), e em  outra parte parte, essas pessoas constituem a única verdadeira contracultura atual, rejeitando e rejeitada pela sociedade, marginalizados por sua falta de vontade ou incapacidade para entrar na onda mundial. Como John Walker Lindh provou alguns anos atrás, a única forma real irritar seus pais e a sociedade é começar a falar absurdos em nome de um Deus ou de outro.

Hoje em dia, estar em uma banda punk é como estar em um círculo de leitura, um grupo da igreja ou um grupo de xadrez: uma maneira divertida de passar algumas noites da  semana e não o ato anarquista de cuspir na cara de convenção. E então eu volto aos anos de 1991, dias pré-internet, quando calçar um Doc Martens com os laços desfeitos, ter Manic Panic no cabelo e ler romances polêmicos era uma forma de distanciar-se de tudo o que era monótono e normal sobre a sociedade. Eu percebi que a minha revolução foi maior, não porque tínhamos perdido, mas porque tínhamos vencido. Nós tínhamos refeito o mundo à nossa imagem, e o mundo não se importava mais conosco. Minha fantasia adolescente era ver um mundo conectado pelas redes globais e controlado por super nerds, um mundo que tornou-se realidade … e é muito menos interessante do que eu imaginava que fosse. Mas ainda acredito que o rock and roll pode mudar o mundo, se não o mundo em geral, pelo menos o seu próprio mundo pessoal.”

A autora Sana Skull nos conta que:“- Minha intenção de fazer esta seqüencia de postagens, partiu de minha observação e reflexão sobre alguns comportamentos que tenho acompanhado da geração mais nova que eu e que se diz “alternativa”. Assim como o autor deste texto, vivi metade de minha vida numa era pré-internet e realmente o comportamento subcultural, assim como a forma que a sociedade via as pessoas alternativas está bem diferente, muito mais aceitável. Chega a ser bizarro lembrar que o maior modelo masculino da atualidade seja um cara todo tatuado apelidado de “Zombie Boye que as maiores modelos femininas são as que tem algo incomum ou fora da beleza padrão

Cheguei a escrever sobre isso em 2009, na postagem “Não Sou Mais Tão Estranha…, na época eu já notava há algum tempo, que algo estava ocorrendo na relação sociedade x estética alternativa.

CONSUMO, IMAGEM & MODA

A Monocultura que foi o tema do tópico anterior anterior, se baseia na idéia de o capitalismo ter chegado ao ponto extremo de abraçar as subculturas como parte do mainstream, já que estas deixaram de fazer resistência aos valores da cultura dominate. O capitalismo é a chave de entrada desta postagem. Para isto, foquem nos valores comerciais, econômicos e visuais dos dias de hoje; pensem em comportamento consumidor. Vivemos numa sociedade em que absolutamente tudo é fabricável, desejável e comprável.

Vivemos na Era da Imagem

Não é preciso ler, mas é preciso ver! A prova é a quantidade de blogs e redes sociais que surgiram nos último anos. Tumblr é um blog cujo formato tem foco na publicação e re-publicação de imagens muitas vezes sem suas fontes de referência, um formato que passa a idéia de um mundo (de imagens) sem dono. As redes sociais Pinterest, I (heart) it, Instagram, Flickr, DeviantArt, Picasa, Fotolog, 500px, TweetPic, Orkut, Google + e Facebook, também tem foco na publicação de imagens. Quem nunca ouviu frases do tipo “tirou foto só pra postar no Orkut/facebook”? E honrando o nome do capitalismo: Fashiolista! A rede social onde as pessoas postam imagens das roupas e acessórios que desejam comprar. Até a plataforma Blogger se rendeu à era da imagem, vejam o Moda de Subculturas em versão flipcard.

O Alternativo se Apoderando de Hábitos de Consumo da Cultura Dominante:

Quando pensamos em subculturas como a punk, a gótica e a rock/metal, lembramos de suas origens de jovens rebeldes, contestadores, questionadores, avessos às regras impostas pela sociedade e em alguns casos, atitudes anti-capitalistas. Ser alternativo não era simplesmente ficar com o lado divertido da vida, era também buscar uma nova forma de evolução humana. As roupas entravam como expressão da criatividade, uma novidade estética proposta por estes grupos que não necessariamente visavam serem “aceitos”, mas mostrarem diferença de idéias.

A customização de roupas entre os punks era de praxe. A moda gótica tinha seus estilos de moda bem dividos – hoje, na moda gótica, há mais do que nunca a mistura de estilos. Estilo Heavy Metal? Antes uns spikes, botas e camistas pretas; hoje, existem marcas que fazem roupas específicas pra esse público que sempre disse “odiar moda”. Um novo segmento de moda alternativa surgiu no exterior, a “high alternative”, marcas que investem em roupas semi-alta costura, materiais caríssimos e algumas vezes conceituais. Quem diria que a moda alternativa se renderia ao luxo?

Roupa é uma linguagem que as pessoas empregam para se comunicar uns com os outros indicando interesses comuns ou envolvimento com atividades semelhantes. Individualidade e mente aberta são características da moda alternativa, porém, em algumas cenas alternativas, estar “bem vestido” é algo que dá status (assim como na moda dominante).

Se a proposta do alternativo é ir contra ou num caminho paralelo ao que o mainstream impõe como moda a ser seguida, porque está absorvendo o mesmo estilo de vida e de consumo? É inevitável? É parte da monocultura? Na sociedade de consumo “ter” é “poder”. Se você tem a estética ou o produto do momento, você tem status, é popular, admirado e copiado. O que você consome forma a sua imagem perante os outros.

Blogs Alternativos x Publicidade e Consumo

Recentemente, populares blogs alternativos passaram a oferecer publicidade paga, o que mostra como, mesmo sob o rótulo de “alternativos” há a motivação pela divulgação e consumo de produtos. Nestes blogs há espaço para publicidade paga ou patrocinada nos lugares mais atraentes da primeira página levando o leitor a clicar num banner e ser redirecionando para lojas de roupas, acessórios e maquiagens. O que nossas blogueiras preferidas usam, confiamos, queremos e compramos! Seja para ficar igual à elas, para ter o produto do momento e ter status, para satisfazer um desejo de consumo. Seria o impulso do sonho de se tornar alguém que não se é comprando a mesma coisa que elas? Seria o consumo pela vontade, pela pessoa linda e maravilhosa que o produto diz te transformar?

Também há um novo segmento de blogs alternativos cujo foco são testes de produtos cosméticos, “compras da semana ou do mês”, os já famosos “look do dia” em fotos deliberadamente montadas e planejadas. Os objetos de consumo que a blogueira compra, refletem suas idéias, personalidade, desejos materiais e sua classe social; afinal, quantas blogueiras postam que compraram determinado produto especialmente caro ou importado sabendo que algumas de suas mais fiéis leitoras nunca poderão comprá-lo, apenas desejá-lo e admirá-las por seu poder consumidor?

Há Algo de Podre no Reino dos Blogs de Moda e Beleza (não é uma matéria sobre blogs alternativos, mas dá idéia do ponto que os publiposts chegaram).

Blogs alternativos costumavam ser fonte de conteúdo diferenciado, novo ou inovador e se tornaram adeptos do consumo pela “imagem e desejo”. Hoje mais forte que a preocupação de ser “ser” é a de “ter”, e é cada vez mais raro encontrar blogs com conteúdo autoral ou inédito já que quando um formato ou tema de um blog faz sucesso, logo aparecem outros com conteúdo igual ou semelhante.

Impossível não citar a publicidade velada e gratuita do “curta”, “tweete” e “compartilhe” o link de uma loja e seu sorteio. Nestes sorteios, você divulga uma marca em troca de uma chance de ganhar um produto. No instante em que você “curte” ou “compartilha” o sorteio, você promove a marca e lhes fornece mais “seguidores”; ao mesmo tempo, você arranja centenas de concorrentes e suas chances de ganhar o produto caem drásticamente. Antes um sorteio dependia apenas de sua participação, a divulgação do mesmo era por conta da marca. Hoje, depende de você divulgá-lo para poder concorrer. É um marketing muito barato para as lojas, já que é você quem faz o trabalho de divulgação de graça em troca de uma chance de ganhar um objeto de desejo.

E isso tudo são coisas más?

Não necessariamente. Isto é apenas um reflexo dos hábitos de comportamento e de consumo dos alternativos atuais, cada vez mais dispostos a consumir e a vender. Cada vez mais dentro da máquina que faz o mundo girar. Será mesmo que a monocultura nos engoliu e agora não repudiamos mais hábitos da cultura de massa?

Estética Alternativa Fabricada em Massa

A moda alternativa existe há pouco mais 30 anos e atualmente está no seu auge de fabricação em massa, variedade e acesso ao público. As marcas se desenvolveram muito na última década com a ajuda da Internet e com a mão de obra barata de países asiáticos como Camboja, Vietnã, Paquistão, Bangladesh e Índia que confeccionam roupas e acessórios a preços extremamente baixos. Já a China fabrica de tudo um pouco e em muita quantidade e Taiwan produz a preços baratos imitações das marcas alternativas de Harajuko e de grandes grifes européias.

Até o começo dos anos 90 houve criação e inovação estética na moda alternativa. Mas de lá pra cá, pouco foi criado em relação ao que foi reciclado e torna-se cada vez mais comum a apropriação de tendências da moda dominante. Tínhamos a idéia de que criações alternativas são únicas, exclusivas e especiais, completamente ao contrário dos produtos massificados e produzidos em grande quantidade que as marcas “normais” tentam vender.

Com a moda alternativa sendo fabricada em grande quantidade e a proliferação das imagens das mesmas através de blogs, redes sociais e a Internet em geral, o que se vê é uma moda alternativa globalizada: a estética pin-up retrô se espalhou pra todas as áreas; dançarinas burlescas pipocam aqui e ali; todas as mulheres sonham com um corset; cabelos em cores fantasia estão mais populares do que nunca; tattoos de caveiras mexicana deixam todos com o mesmo desenho na pele; o Steampunk deu um salto de popularidade; moda inspirada em épocas antigas nunca esteve tão em voga. Todas as estéticas se proliferam num click! Todos querem ser diferentes, autênticos e individuais, mas aparentam mais iguais do que nunca antes foram.

Marcas Alternativas Desejando o Público Mainstream

Recentemente, uma corsetmaker alternativa, postou em suas redes sociais que estava super feliz porque Lady Gaga usou uma peça sua e isto poderia trazer muitos mais consumidores pra ela. Durante sua carreira, a estilista teve seu foco no público underground e alternativo. Qual o motivo de uma corsetmaker de sucesso no meio alternativo desejar que sua marca seja reconhecida pelo mainstream? Reconhecimento de seu talento e de suas peças? Isso ela conseguiu através dos anos na cena alternativa que divulga sua marca em diversas mídias. A resposta pode ser “satisfação financeira”.  Em nossa sociedade entendemos que ter sucesso ou ter seu talento reconhecido está ligado à dinheiro. Foi se o tempo em que corsetmakers criavam apenas pro mini-nicho do tight-lacing, para as góticas, se satisfaziam e viviam felizes contribuindo com o cenário alternativo underground. Hoje é preciso também desejar um público abrangente para que haja cada vez mais vendas.

Marcas alternativas de maquiagem como Stargazer, Illmasqua, Sugar Pill, Lime Crime, entre outras, tem estampado páginas de revistas mainstream. Será que há a possibilidade de que estas marcas optem por adequar parte de seus produtos ao mainstream para alavancar vendas?

A Moda Alternativa Copiando A Moda Alternativa, alguns exemplos:

– A moda de rua japonesa influencia a moda alternativa européia e americana. O que se vê nas ruas de Tóquio, alguns meses depois terá sua versão européia/americana; com tecidos diferentes e modelagem adaptada ao corpo ocidental.

– Uma marca asiática faz vestidos aos estilo 50 e tem escritório em Londres. Estes vestidos de estética retrô fabricados em massa são vendidos em lojas alternativas americanas, inglesas, alemãs, polonesas, suecas, australianas e lojas brasileiras que as importam. Praticamente todas as lojas, independente do país vendem as mesmas peças. O sucesso foi tanto que outras marcas alternativas passaram também a fazer vestidos retrôs em grande escala como forma de  concorrência; mesmo que algumas destas marcas sempre tenham tido foco na moda gótico-romântica…

– Iron Fist: A marca seguiu o princípio do conceito da moda alternativa que é: “criar algo novo ou ousado”. Criou sapatos de salto fino estampados. E claro que deu certo! Não havia algo semelhante no mercado! O público alternativo quer coisas diferentes! Por conta do sucesso dos produtos da marca, várias marcas alternativas copiaram a idéia da Iron Fist. Inclusive marcas cuja estética sempre foi focada em plataformas darks e futuristas que nunca focaram em salto fino por ser “mainstream e normal demais”.

– Um caso dramático já abordado aqui no blog, um caso de cópia não apenas de uma idéia, mas da assinatura de um estilista, o “corset camafeu” de Louise Black. Lojas européias e asiáticas já produzem diversos produtos (bolsas, blusas, cintos) oriundos de uma criação única e original: o corset da Louise. Não é bizarro que a própria Louise não fabrique as bolsas, cintos e blusas de “corset camafeu” e sim outras marcas que apenas pegaram a idéia e copiaram? A artista que teve a idéia inovadora não está lucrando nada com isso, já que ela optou por trabalhar com peças exclusivas e sob medida e não com fabricação em massa como as cópias que visam o lucro.

Project Runaway e Louse Black

Cópias na Moda Alternativa


Devemos considerar estranho ver uma marca alternativa copiando outra marca alternativa, ou esta atitude tão “moda dominante – lucro a todo custo” veio pra ficar? Não é no alternativo em que a criatividade total e sem amarras é liberada? Porque uma marca alternativa copia a outra? Creio que pela certeza de retorno financeiro já que é comprovado que determinada estética vende. Copiar o que deu certo com outra marca, fazer sua versão e vender, independente de ser um produto autoral ou não. Todos querem um pedaço do sucesso (e vendas) alheio.

Concluindo:

Já debatemos muito neste blog que na era pré Internet era mais difícil encontrar roupas alternativas, tudo evoluía de forma forma lenta, embora existissem estilos variados. A Internet melhorou a comunicação e divulgação, temos acesso à todo tipo de informação e imagem. Há estilistas alternativos criando produtos super diferenciados e criativos e enquanto eles não caírem nas redes sociais e forem compartilhados ao extremo, sua arte será única e não massificada. A partir do momento que um público maior as conhecer, as cópias serão inevitáveis.

No Brasil, temos como referência de moda as tendências estrangeiras. Sempre foi assim porque eles são uma temporada à frente de nós. O mesmo acontece com a moda alternativa/underground: copiamos o que eles produzem. Mas não precisa ser assim, a Austrália, embora sofra influencias da moda européia e japonesa, é um país de clima peculiar e sua moda alternativa tem várias características próprias, adaptadas ao clima e ao público. O mesmo fez a Alemanha, Inglaterra e EUA que criaram versões para a moda de rua japonesa adaptados ao público e às particularidades climáticas de seus países. E no Brasil, espera-se que este seja o futuro de nossa moda alternativa, olhar pro exterior, mas criar de forma autoral, de acordo com nossos hábitos, clima e nossa criatividade sem esquecer do empreendedorismo, característica fundamental de líderes de negócio.

A criatividade deve sempre avançar e não regredir nem estagnar. O consumo da moda das subculturas deve ser um reflexo da criatividade e originalidade do público e não um consumo baseado na fuga de problemas, na ilusão de que um produto vai te fazer ser que não se é, essa é uma característica de consumo da cultura dominante.Mas uma coisa eu sei, é característica do underground se refazer de tempos em tempos e sempre surpreender com algo nunca feito antes.

* Este texto é composto por três artigos de Sana Skull publicados em seu Blog Moda de Subculturas e reproduzido aqui com autorização da própria.

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