Um Livro Maldito entre os Malditos [por Shirlei Massapust]

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Um Livro Maldito entre os Malditos [por Shirlei Massapust]

Em 1971, Jacques Bergier publicou “Lês Livres Maudits”, onde disserta sobre os prós e contras da censura e destruição de certos livros ao longo dos séculos. Depois de aceitar a hipótese de que o tarô resume um papiro egípcio e que Madame Blavatsky traduziu um livro extraterrestre, ele estranhamente nega a antiguidade de I Enoch:

Não existe o Livro de Enoch contemporâneo à Bíblia, como certos ingênuos crêem. Não há razões sérias para se crer que os dois livros de Enoch datem dos gnósticos. Mesmo em estado de manuscrito, não aparecem antes do século XVIII.[1]

Em verdade as cópias aramaicas dos cinco livros de Enoch existentes hoje só não são contemporâneas da mais antiga cópia de uma Bíblia completa porque eles são mil anos mais antigos (datação comprovada por teste de C-14). O enxerto resumido no capítulo sexto do hebraico moderno foi datado por análise filológica na segunda Idade do Ferro. Então ele é, de fato, insofismavelmente, mais antigo formal e materialmente.

Tenho certeza que Jacques Bergier estava a par deste fato, pois a tradução francesa dos fragmentos de 4QHenocc havia sido publicada em 1958, pelo brilhante historiador e arqueólogo J. T. Milik, sob o título Hénoch au pays dês aromates (ch. xxvii à xxxii).

Isso significa que, em 1971, o jornalista e ufólogo Jaques Bergier tinha obrigação de conhecer a antiguidade destes livros apócrifos. Então, por que o famoso editor negou a existência de I Enoch? Será que ele se decepcionou com o conteúdo tanto quanto o de certo papiro egípcio que anuncia “o conhecimento de todos os segredos do céu e da terra”, mas “não descreve mais que a resolução de equações do primeiro grau”?[2] Ora, isto seria uma atitude imprudente e infantil… I Enoch não ensina a construir astronaves, mas talvez Bergier tenha encontrado alguma coisa preocupante. A melhor forma de impedir que um texto “perigoso” não venha a público é não editá-lo.

Bergier afirma que ele hesitaria antes de publicar uma tradução das alegorias do tarô original “com provas e fotografia”.[3] Porém ele não era o único editor da face da Terra apto a divulgar os fragmentos de Enoch. Quando um texto já está difundido o trabalho do censor fica mais complicado. Falando sobre a tentativa de Willian Romaine Newbold de decifrar um manuscrito cifrado, Bergier alegou que a decifração deveria ser seguida de “uma censura séria” antes de sua publicação:

Se realmente o manuscrito Voynich contém os segredos das novas e dos quasars, seria preferível que ficasse indecifrável, pois uma fonte de energia superior à da bomba de hidrogênio e suficientemente simples de manejar para que um homem do século XIII possa compreendê-la, constituiria exatamente um tipo de segredo que nossa civilização não tem necessidade de conhecer… Senão, nosso planeta desapareceria bem mais depressa na chama breve e brilhante de uma supernova.[4]

De acordo com Bergier, foi por pouco que o perigo supostamente contido no manuscrito não veio à tona. “Neste caso, perguntar-se-á, por que o manuscrito de Voynich não foi destruído? A meu ver, percebeu-se muito tarde sua existência, por volta de 1920, e então já circulava tal número de fotografias do texto que seria impossível destruí-las todas”.[5] Mas eis que surge uma missão realmente impossível… O que se pode fazer com um livro não cifrado que já era amplamente divulgado séculos antes do censor nascer? Por toda parte pessoas traduzem, reeditam e divulgam o Livro de Enoch continuamente. A única coisa que um censor pode fazer contra ele é negar sua autenticidade.

Se o caso não foi de simples negligência ou desprezo, o que Jacques Bergier poderia ter visto de tão perigoso no Livro de Enoch  para censurá-lo justamente na sua crítica à censura? E quem ousará fazê-lo de novo?

Notas:

[1] BERGIER, Jacques. Os Livros Malditos. Trd. Rachel de Andrade. São Paulo, Hemus, p 100.

[2] BERGIER, Jacques. Op cit., p 24.

[3] BERGIER, Jacques. Op cit.,  p 24.

[4] BERGIER, Jacques. Op cit.,  p 83-84.

[5] BERGIER, Jacques. Op cit., p 82.

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